João Moutinho no FC Porto, Villas-Boas?
Eu ainda sou do tempo da estreia a titular de João Moutinho nas competições europeias. A 24 de fevereiro de 2005, na semana seguinte a debutar na Taça UEFA como suplente utilizado, o médio voltou a ser aposta de José Peseiro frente ao Feyenoord, agora de início na Banheira de Roterdão, nova vitória dos leões por 2-1 que garantiu a passagem aos oitavos de final de uma caminhada de sonho que acabou em pesadelo a jogar em casa diante do CSKA Moscovo.
Na companhia do Mário Nóbrega, do Rui Baioneta e do Sérgio Miguel Santos, estive nos Países Baixos como enviado-especial de A BOLA e no dia do jogo tive a missão de analisar os jogadores verdes e brancos.
«Aposta ganha de José Peseiro. Hugo Viana começou o jogo no banco e, ao longo dos 90 minutos, percebeu-se a opção do técnico. Taticamente perfeito, tanto a defender como a atacar, e exímio na gestão da bola, revelou maturidade acima da média. Imune à pressão, encarou a estreia com a atitude dos eleitos. Aos 18 anos, está lançado para voos de outra amplitude», assim terminava a apreciação individual a João Moutinho, o melhor em campo nessa noite inesquecível perante um público diabólico, despesas no centro do terreno divididas com o brasileiro Rochemback.
A jovem promessa acabada então de entrar na idade adulta completa a 8 de setembro… 39 anos. Se quer mostrar a um aspirante a futebolista um exemplo a seguir, pela solidez e consistência da carreira, basta recordar-lhe o trajeto de Moutinho traduzido em número de partidas por temporada. No Sporting, 26+43+41+56+43+50; no FC Porto, 53+44+43; no Mónaco, 34+52+37+52+44; no Wolverhampton, 44+57+36+39+36; e no SC Braga, 44+34.
No verão de 2010 — quando foi apelidado de maçã podre em Alvalade e rumou ao pomar dos dragões, um dos negócios mais estapafúrdio de que me lembro em que só um dos emblemas ficou a ganhar — João Moutinho iniciou percurso decisivo na consolidação de André Villas-Boas como treinador. Quinze anos depois, digo eu, poderia facilitar a afirmação de AVB como presidente.
Num plantel com algum talento, embora bastante carente de referências, não é difícil adivinhar o peso que teria. Não se trataria de esperar que resolvesse encontros semana após semana, mas sim de o integrar numa espécie de papel híbrido — jogador e mentor. A presença dele no grupo serviria de catalisador para a cultura de trabalho e mentalidade vencedora que o FC Porto precisa — e de que maneira! — de reforçar. Nada de nostalgia, apenas estratégia pensada muito além das incidências nas quatro linhas.
Para um clube que procura recuperar o ADN perdido, o conhecimento dessa identidade revelado por Moutinho — nunca escondeu o desejo de regressar, que chegou a ser dado como garantido em 2023… — seria indispensável. No puzzle para 2025/2026 são necessárias peças-chaves na construção de um balneário coeso, maduro e orientado para o sucesso.
Talvez fosse boa ideia André Villas-Boas chamar o antigo pupilo e dizer-lhe: «João, João, anda liderar que tu lideras bem.»
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