Análise: Leão sem instinto matador
O empate com o AVS foi o quarto tropeção dos leões na Liga desde a chegada de Rui Borges, no final do ano civil de 2024 (oito jogos). De uma vantagem de seis pontos, os verdes e brancos estão agora empatados com o Benfica na frente.
Afastada toda a espuma da polémica de câmaras em postes de iluminação, foras de jogo a regra e esquadro, e regras do protocolo do VAR, há uma coisa que fica da visita do Sporting à Vila das Aves, na 23.ª jornada da Liga. Com o terceiro empate seguido no campeonato, os leões foram apanhados pelo Benfica na liderança e só conservam o primeiro golo devido à melhor diferença de golos.
E nestas três igualdades mais recentes, em duas existe um tema comum que deve preocupar Rui Borges. Diante do FC Porto e AVS, o Sporting foi para o intervalo a vencer e não teve o instinto matador para regressar a Alvalade com os três pontos.
Pese embora o facto de serem duas equipas diametralmente diferentes no toca aos objetivos – os dragões lutam pelo título, os avenses querem assegurar a manutenção – em ambos os caso, o Sporting optou por recuar linhas no segundo tempo.
A primeira parte do Sporting na vila das Aves foi dominadora, com 62% da posse de bola, oito remates (três enquadrados, cinco deles dentro da área) e quatro boas oportunidades para marcar.
No entanto, tudo parece ter mudado nos segundos 45 minutos – a posse de bola reduziu para 52%, os leões fizeram apenas um remate que não conseguiram enquadrar. O recuo foi notório e a expulsão não ajuda a explicar tudo, já que aconteceu aos 79 minutos, com os campeões nacionais já a perderem o controlo do jogo.
Olhando para o jogo com o FC Porto, na 21.ª jornada, a primeira parte do Sporting é de assinalar tendo em conta que é um jogo no Dragão – 56% de posse de bola, 8 remates (quatro dentro da área) e não permitiu nenhum remate enquadrado ao adversário. Olhando para o segundo tempo, o cenário é igual ao do AVS – 32% de posse de bola, cinco remates (os cinco dentro da área, mas apenas um enquadrado). E se é verdade que o Sporting acabou reduzido a nove, os vermelhos surgiram apenas aos 90+7’ e 90+8’.
A isto podemos ainda juntar um outro empate custoso ao Sporting. No segundo jogo de Rui Borges no emblema leonino, o empate 4-4 com o Vitória SC foi arrancado a ferros (golo de Trincão aos 90+5’), um cenário que poucos imaginavam aos 80’, quando os leões venciam por 1-3. E aqui os números voltam a contar uma história semelhante: Na primeira parte a posse de bola foi repartida (50%), mas o ascendente ofensivo não (seis remates, três enquadrados, três dentro da área); enquanto no segundo os vitorianos controlaram a partida (56% de posse de bola) e estiveram mais perto do golo (10 contra três remates, sendo que o Sporting só enquadrou os dois que marcou na etapa complementar).
A questão física
Não se pode falar do Sporting sem abordar a questão do plantel. Desde que Rui Borges assumiu o comando técnico, as lesões têm sido uma constante e apanharam elementos importantes – Pedro Gonçalves ainda não somou minutos, Hjulmand, Gyökeres, Trincão, Morita, Daniel Bragança, Gonçalo Inácio já debelaram problemas físicos – e isso torna a gestão mais difícil com o avançar da época e o acumular de jogos.
E, de resto, essa foi uma pecha de Rui Borges nos tempos de Vitória SC. Em Guimarães, o treinador também deixou escapar pontos de posições vencedoras em quatro ocasiões, mas três delas surgiram após jogos europeus e a outra foi diante da Fiorentina, uma das favoritas a conquistar prova.
Contudo, olhando para os empates à frente dos leões, apenas um surgiu após uma semana europeia. O 2-2 com o AVS foi quatro dias depois do nulo em Dortmund, sendo que apenas Rui Silva, Diomande, Gonçalo Inácio e Geovany Quenda repetiram o onze, com o guarda-redes e o central costa-marfinense a serem os únicos que cumpriram os 90 minutos na Alemanha.
O empate no Dragão surge cinco dias depois do triunfo com o Farense, e a igualdade em Guimarães foi uma semana após o triunfo no dérbi com o Benfica. E no que toca às lesões, o duelo nas Aves foi o jogo em que a equipa apareceu mais debilitada (Hjulmand, Morita, João Simões, St. Juste, Daniel Bragança e Geny Catamo ausentes, além de Pedro Gonçalves e Nuno Santos, que ainda não jogaram com Rui Borges).
É, sem dúvida, um fator importante, mas não ajuda a explicar completamente esta falta de instinto matador do leão e o constante recuo de um Sporting que parece desconfortável com vantagens.
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